terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

[Livro] O silêncio do Diário - Capítulo 2


            Abri a porta e entrei em casa, larguei a mochila no chão e deitei-me no sofá amarelado de nunca ser tido limpo, liguei a tv e respirei, com os pensamentos no diário, na Lydia, no cadeado e principalmente em Natasha, adormecendo como um leão com um sedativo...
***
Capítulo 2

Acordei no meio da noite, cabeça doendo e com uma sensação estranha em mim. Levantei-me e fui até a janela, olhar o movimento da madrugada. A garoa quase congelava, a rua estava deserta, os postes como sempre: apagados. Exceto um deles, que estava piscando como se estivesse em curto, sobre a luz fina estava uma sombra deitada. Não sei porque, mas tomado por um sentimento de ânsia saí de casa e fui até a sombra, ao me aproximar percebi que conhecia a pessoa, era Natasha.
Fiquei horrorizado com minha visão, ela estava jogada com uma poça de sangue a sua volta, sua garganta cortada em forma de lua com uma precisão cirúrgica. Em suas mãos pálidas e ensanguentadas estava o diário. Talhado em seu peito um símbolo que eu desconhecia com a mesma precisão citada anteriormente.
           Ao longe, próximo ao horizonte avistei uma figura encapuzada. Ele tinha uma lâmina que pingava sangue nas mãos. Senti meu sangue ferver de ódio, não aceitava a possibilidade de alguém atacar tão violentamente minha protetora, comecei a correr perseguindo a sombra, mas o chão estava escorregadio a acabai caindo.
Acordei suando frio, bem assustado. Minhas pálidas mãos tremiam e deixavam florescer meu pânico por todo o corpo. Meus olhos buscavam algum ponto de referencia, mas havia somente a dor do frio constante da noite. Já tive muitas perdas, mais uma como essa não seria nada fácil de digerir, meus pais, minha tia, agora ter a perda de Natasha seria a última gota do oceano.
Levantei-me do sofá, eram quase dez horas. Fui até a cozinha pegar um copo d’água e aproveitar reorganizar meus pensamentos para o que tinha naquele estranho sonho. Cheguei na pia e apanhei um copo de vidro com coloração esverdeada. Coloquei a água do filtro exterior a geladeira e bebi. Deliciando a água que passava por minha garganta seca e rígida. Lavei o copo e coloquei-o no lugar voltando logo para a sala.
Desliguei a TV que estava em um canal desconhecido com um programa supostamente de humor. Sentei-me e comecei a pensar um pouco mais sobre o agressivo sonho. Poderia ter alguma ligação com o diário? Será que isso poderia mesmo acontecer? Perguntava-me a mim mesmo com tantas dúvidas que não tinha como pensar.
Subi então para meu quarto, procurando algo que pudesse me ajuda na internet. Liguei meu notebook e coloquei-o na fonte externa. “Maldição, esqueci de carrega-lo”. Sentei na cadeira da mesa e comecei algumas pesquisas. Afinal, uma casa antiga poderia muito bem render grandes histórias e lendas. Procurando um pouco sobre a casa descobri que ela era sempre bem limpa, palco de grandes festas e cerimônias, daquelas do século XIX.
Eu poderia muito bem perguntar a Harry, ele sabia de tudo um pouco, nada escapava de suas observações e notas. Assim aquele cara tão inteligente se mostrava cada vez mais, sua fama aumentava a cada teste e prova de química que tínhamos.
Como tem gente burra no mundo! A primeira “lenda” que eu achei fora num blog mal redigido onde se diziam que o explorador descobriu que fora traído por sua mulher no ápice de uma “caça ao tesouro”, após descobrir ele se matou com remorsos tendo uma faca encaixada no tórax. Depois disso, ele vem sempre procurando sua mulher em outro corpo, a matando por vingança. Isso não tinha fundamentação para ser verídico.
Horas e Horas perdidas diante aquele notebook à toa. A cada lenda que eu encontrava elas iam ficando mais fúteis e insignificantes. Nada de interessante em nenhum site, se dizem que na internet encontra-se tudo, seria melhor eles reverem essa afirmação, pois eu poderia encontrar mais vestígios na biblioteca municipal de Londres onde só há livros antigo e empoeirados a encontrar lendas no meu notebook já ultrapassado.
Minha angustia maior era saber como Natasha estava, era uma preocupação que eu tinha a cada 5 minutos, ela era a única com quem eu poderia contar. Eu tinha medo de perde-la como perdi os outros.
Entrei então em desespero em busca do pequeno celular, não seria fácil encontra-lo. Tenho perda de memória recente, só às vezes, mesmo assim era um incomodo constante em minha vida.
Procurei então em todo meu quarto, revirando cada metro quadrado que havia ali, cada móvel sórdido e sujo até que fui encontra-lo após 15 minutos dentro da minha mochila, no bolso lateral.
Liguei então para Natasha, com um grande receio que houvesse ocorrido algo com ela. Seu celular não atendia, chamava, mas não respondia. Tentei novamente, mesma coisa. Meu coração então voltou a pulsar mais rápido e o pulmão a injetar bem mais oxigênio em meu corpo. Até que na quarta tentativa uma voz baixa e lenta surgiu:
-          Alô, quem é?
-          Sou eu, Natasha: Luke.
-          Ah sim, o que você quer?
-          Nada, só quero saber se aconteceu algo com você?
-          Não. Era para acontecer?
-          Bem no meu sonho sim, quer dizer, não, não era para acontecer nada.
-          Que história é essa de sonho, Luke?
-          Esquece.
-          Não vou esquecer, eu quero...
E então como um ato instantâneo eu desliguei o celular, sentindo a voz de Natasha sumir entre o ar. Então voltei para minha pesquisa, nada mais me impressionara, pelo o contrario, me fizeram rir. Tenho que me concentrar, disse. Desci as escadas e fui para a cozinha preparar um café bem forte, afinal, isso seria de grande ajuda.
Alguns minutos e o café estava pronto. O cheiro forte entrava em meu corpo e me fazia puxar o ar até a capacidade máxima do pulmão. Bebi aquele café quente enquanto procurava a minha lista telefônica para poder pensar melhor.
Fui até a sala e o achei. Bem debaixo da mesa do telefone. Eu já suspeitava, suspirei. Subi novamente as escadas e tranquei-me no quarto. Agora todas as luzes de minha casa estavam apagas, só sobrara a luz fraca do abajur de minha mesa, onde me sentei e continuei a minha pesquisa, mas agora eu não queria saber sobre lendas, queria saber sobre Brandon, e para isso precisaria de alguém que o estudara bem.
Minha casa estava camuflada na noite escura de Londres, o silêncio reinava em cada metro cúbico de meu lar, era capaz de ouvir os grilos do anoitecer cantando suas belas melodias.
Procurei então alguma historiadora da cidade, que pudesse me ajudar a conhecer Brandon e o diário que supostamente ele escrevera. Alguém que não fosse tão nova, pois poderia suspeitar, alguém que já estivesse numa fase onde desconfianças não teriam tanta repercussão. Seu nome era mais diferenciado dos demais, então não foi difícil encontra-la no meio de milhões de pessoas. Seu nome? Jenny Fox.
Peguei o celular e liguei. Alguns segundos de espera, até que, uma voz doce e calma emergiu do aparelho dizendo:
-          Alô, quem é? – seu tom era de surpresa.
-          Olá, eu sou Luke Walker, e a senhora deve ser Jenny Fox.
-          Sim, sou eu mesma. O que quer comigo?
-          Eu sou um estudante e estou fazendo uma pesquisa sobre Brandon e sua casa, gostaria de fazer uma entrevista com a senhora a respeito.
-          Ah sim! – sua voz mudara, ficou mais alegre – Eu adorei estuda-lo um pouco mais, tenho recordações até hoje.
-          Que bom. Então poderíamos fazer esta entrevista?
-          Sim, claro. Mas deverá ser feita até meio-dia, pois após eu não estarei mais em casa.
-          Tudo bem, estarei ai as dez e meia. Pode ser?
-          Sim. Estou contente em poder ajudar.
-          Então até amanhã, Sr. Fox.
-          Até, Walker. – há muito tempo não ouvia alguém de chamar de Walker, a ultima vez que isso ocorreu foi com minha tia.
Então me preparei para dormir, estava cada vez mais ansioso para o dia de amanhã. Simplesmente o próximo dia poderia me dar minhas primeiras conclusões. Deitei na cama fria e adormeci sentindo a troca de calor entre meu corpo e o cobertor.
***
Acordei com o despertador do celular, este já era mais quieto, não precisara me irritar para levantar. Havia colocado para tocar as 10:00, bem em cima do horário para não poder dormir mais.
Despreguicei-me e troquei de roupa. Desci as escadas correndo. Estou atrasado! Peguei uma maça na fruteira de minha mesa, minha mochila com o diário e um caderno dentro e abri a porta começando a sentir que eu poderia perder a hora da entrevista.
Olhei para os lados, fui até os fundos de minha casa e apanhei minha bicicleta vermelha. Montei-a e pedalei rapidamente até o centro de Londres. Demorei alguns minutos para chegar. Ela morava na rua conhecida, não foi difícil encontra-la.
Ainda estava no horário marcado, eram 10:22 quando cheguei perto de sua casa. Era uma casa alegre, o portão era de ferro, já meio enferrujado. Havia um pequeno jardim na entrada, as flores estavam todas bem tratadas, vivas e bastante coloridas, o caminho de pedra lembrava a casa de minha tia, pedras que com o tempo começavam a criar musgos e dificultava a passagem. Seja como for, eu não poderia me atrasar, estava tão confiante nessa nova história que poderia ir até outra cidade para descobrir mais.
Toquei a campainha que havia ali e esperei alguns segundos. Aproveitei e passei a mão em meu cabelo para que ele voltasse ao lugar, pois a minha corrida o deixara despenteado. Quando eu levantei a cabeça ela já estava na porta de sua casa encostada com os ombros na lateral.
Ela desceu as escadas e veio em minha direção. Sorridente ela se mostrou cordial, seus cabelos grisalhos e longos demonstravam que sua sabedoria seria invejável por muitos. Pele um pouco enrugada, mas nada que mostrasse uma velhice demasiada.
A historiadora então abriu o portão de ferro e com uma afeição disse:
-          Bom dia, jovem.
-          Bom dia, Sra. Jenny Fox.
-          Por favor, me chame só de Jenny.
-          Venha...Hmm...
-          Luke.
-          Isso! Venha Luke, vamos começar esta entrevista logo, pois nosso tempo e curto.
-          Tudo bem então.
Jenny foi à frente, eu fui a seguindo admirando cada planta, cada flor. Sua casa me lembrava muito a de minha falecida avó. Os móveis, o cheiro, os quadros, isso me dava conforto e um aconchego a mais para poder com tranquilidade começar a esperada entrevista.
Ela me pediu para sentar no seu sofá. Eu então me acomodei e esperei que ele fosse até seu quarto buscar seus óculos. Quando voltou ela sentou numa poltrona reclinável bem diante ao sofá. A poltrona está um pouco acabada, pensei. Deveria ter bastante tempo de uso.
Tomei a liberdade de começar a entrevista, porém, deveria ir com cautela, não conhecia a historiadora e nem se ela poderia me ajudar com a minha curiosidade.
-          Jenny, irei começar a fazer as perguntas para minha pesquisa. Posso iniciar?
-          Ah sim! Faça a primeira pergunta.
-          Brandon escrevia livros?
-          Sim, muitos. Ele era um explorador, ele tinha a natureza de escrever.
-          Alguns deles te chama a atenção?
-          Bem, há um que é tratado como uma lenda.
-          Porque?
-          Diz-se que esse livro continha grandes feitiços que ele aprendera numa de suas viagens.
-          Nunca o encontraram?
-          Não. Diz também que ele mantinha no livro uma das cinco pedras de Nukal. Um grande mágico da época.
-          O que a pedra tinha de especial?
-          Eu não sei. Isso estava, supostamente, escrito no livro.
-          Entendo. O livro era protegido?
-          Como assim?
-          Deixa, uma pergunta idiota de minha parte.
-          Continue.
-          Eu acho que podemos encerrar por aqui, Jenny.
-          Mas já? Não quer saber mais?
-          Eu tenho muitas coisas para saber ainda. Mas preciso passar em um lugar agora. Não posso demorar.
-          Ah sim. Mas precisando de mim, é só ligar.
-          Tudo bem, eu ligo sim.
E então ela me levou a porta. Despedi-me dela e segui caminho até minha bicicleta que estava encostada no muro. O céu havia se escurecido. “O tempo fechou, que merda!” Disse. Pingos de água começaram a cair no asfalto e depois, no meu corpo.
Aproveitando que estava no centro de Londres, lembrei que havia um chaveiro conhecido meu por perto. Era só a algumas ruas de onde eu estava, então decidi ir até lá, afinal, ele poderia me ajudar com o cadeado do livro.
“Graças a Deus, algum lugar seco” Pensei. Eu estava um pouco molhado, pingando o piso da loja. A loja era pequena, havia um balcão, atrás dele uma estante e uma porta para os fundos. O chaveiro não me ouviu entrar, ele estava de costas. Então me aproximei, encostei-me ao balcão e disse:
-          Será que você está ficando surdo?
-          Ora, ora. Se não é você, Luke. Há quanto tempo. – ele então veio em minha direção e me deu um abraço. Panter era meio acima do peso, tinha uma barba falhada e cabelo com rabo-de-cavalo.
-          Sim, meu amigo. Já faz meses, não é?
-          É, mas o que traz o aqui?
-          Preciso de sua ajuda.
-          O que houve? Se meteu em alguma encrenca de novo?
-          Não, Panter. Preciso que tente abrir isto. – então retirei o diário da mochila.
-          Oh! Um cadeado antigo de cinco letras. Esse é bem raro de se ver. – ele puxou rapidamente de minha mão e começou a admira-lo.
-          Tem como abrir?
-          Você está falando com a pessoa certa, Luke.
Ele então abriu a porta de trás e pediu para que eu esperasse um pouco. Voltou com uma maleta vermelha com algumas ferramentas. Ele começou a forçar e a bater com violência no cadeado. Tive receios que acontecesse a mesma coisa que havia acontecido com aquele bêbado da festa. Dito e feito.
As mãos dele começaram a exalar vapor. A pele ficara vermelha e ele, desesperado, começou a gritar:
-          O QUE É ISSO??? O QUE VOCÊ VEZ COMIGO?
-          Eu...Eu não sei. Eu não fiz nada.
-          AAAAH!!!
Ele então caiu. Eu fui até o outro lado do balcão para ver seu estado. Ele não parava de se movimentar. Parecia um ataque alérgico, mas bem mais forte. Seu corpo todo entrara em defesa. Panter ficou todo vermelho e suas veias estavam bem visíveis. Tive medo, não sabia o que fazer. Olhei para todos os lados, nada.
Peguei o diário e fugi. Amedrontado corri para fora e pedalei o mais rápido possível. Eu não conseguia pensar em nada a não ser no Panter. Meu corpo estava desesperado e bem assustado.
Consegui então chegar em casa. Subi rapidamente para meu quarto e liguei para Natasha. O telefone não demorou a chamar e muito menos a pronunciar as palavras de Natasha.
-          Alô, quem é?
-          Sou...Sou eu, Natasha.
-          O que houve, luke? Você está ofegante porquê?
-          Você pode vim aqui agora?
-          Posso, mas...Pra quê?
-          Vem. Por favor, vem.
-          Ta, eu estou indo. Espera um pouco.
Eu desci e sentei no sofá. Minha respiração ainda se mantinha em alta. A pulsação, descontrolada. De nada adiantava no momento, eu precisava desabafar e eu sabia que a única que poderia me ouvir agora era Natasha.
***
Bateram na porta. Meu coração então congelou e aqueceu em menos de um segundo. Fui até a entrada e a abri. Natasha me olhava com espanto. Puxei seu braço para dentro, fazendo com que ela entrasse. Eu estava afoito, não conseguia me manter parado. Ela então colocou suas duas mãos geladas em minha face e disse:
-          Acalmasse! O que houve? Você está pálido. Sente-se no sofá, vou pegar água para você. – ela então foi até a cozinha e voltou me dando o copo. – Agora me diga. O que aconteceu?
-          Lembra do Panter?
-          Sim, o chaveiro. Que houve? – ela estava tentando me acalmar, mas minha preocupação era imensa.
-          Eu estava lá. Pedi para que ele abrisse o diário para mim, suas mãos começaram a produzir fumaça, sei lá.
-          Que história é essa? Diário? Fumaça?
-          Na festa do Paul eu encontrei um diário, só que ele tinha um cadeado e havia um bêbado perto de mim que tentou abrir o cadeado a força e de repente suas mãos pareciam estar pegando fogo, eu saí correndo. Ai hoje eu fui até o Panter, pedi para que ele abrisse, mas ele não conseguiu e tentou usar a força, foi ai que começou a mesma coisa que havia tido o bêbado. Eu...Eu não sei, acho que ele morreu.
-          Que história absurda é essa?
-          É verdade, Natasha. Confia em mim.
-          Cadê esse diário?
-          Aqui. – então eu o mostrei para ela.
-          Deixe-me ver – ela então tirou de minha mão e começou a forçar contra o diário, eu fiquei em choque, meu corpo entrou em pânico, iria acontecer à mesma coisa com ela. O cadeado foi puxado, forçado, mas nada aconteceu, ela não sentira nada.  – viu? Não tem NADA! Isso é invenção sua, eu já deveria saber.
-          Não, Natasha. Não é. Aconteceu mesmo.
-          E porque não aconteceu nada comigo?
-          Eu...Eu não sei. – minha cabeça já estava confusa. Era uma boa pergunta, porque não aconteceu nada com ela?
-          Isso não passa de uma brincadeira sua. – Ela então se levantou e pegou sua bolsa.
-          Espere, Natasha.
-          Esperar o que? Tem mais brincadeirinhas? Eu tinha ficado preocupada com você. – foi-se indo para a porta enquanto ela falava.
-          Mas é sério.
-          Não, não é sério. Você não é sério. Sua vida não é séria. Suas PALAVRAS não são sérias. – Natasha estava realmente acreditando que eu havia mentido. Ela bateu a porta com força e pôs-se a ir embora.
Que caralho! Por que ela não podia acreditar em mim? Foi a pergunta que me fiz por um bom tempo. Era 2:42 da tarde e eu não sabia o que fazer. Parecia que eu estava entrando num estado de nervosismo e preocupação, não só com Panter, mas com a Natasha que não acreditara em mim.
Fui para o banheiro. Tirei a roupa e fui para baixo do chuveiro. Ali fiquei um bom tempo. Até que meu corpo relaxasse e aliviasse um pouco a tensão provocada. Meus braços estavam fracos, como se eu não tivesse força para levanta-los.
Sentei no Box deixando as lágrimas se misturarem com a água. Eu não tinha mais força. A única pessoa que confiava em mim me deixou. E a culpa não fora minha como de costume. Desta vez foi real, eu estava falando a verdade, mas não tinha ninguém que confiasse novamente em mim.
***
Sai do banho com meu telefone tocando. Sequei-me rapidamente e fui até meu quarto atender, eu esperava que fosse Natasha com seus pedidos de desculpa. Era o que eu precisava ouvir agora.
Tirei ferozmente o telefone do gancho, mas a voz que apareceu não era de Natasha, na verdade eu não sabia de quem era.
-          Alô, Luke?
-          Sim, sou eu. Quem é?
-          Oras, não se lembra de mim? Lydia.
-          Ah! Me desculpe, Lydia. Estou tendo um dia pra lá de complicado.
-          Entendo. Por isso não foi a aula hoje?
-          É, praticamente sim.
-          Olha, ele passou um trabalho em duplas. Como você faltou, eu me propus a fazer com você, tudo bem?
-          Ótimo. Quando quer fazer?
-          Eu não sei. Eu te aviso quando puder.
-          Tudo bem então.
-          Aqui, você não quer me falar o que aconteceu não?
-          É melhor não, Lydia. Eu preciso pensar.
-          Ah...Vou desligar, preciso sair.
-          Ta...Tchau.
-          Tchau, Luke.
Eu não esperava por essa. Lydia Clark me ligando para dizer que vai fazer trabalho comigo? Isso sim seria uma brincadeira. Mas eu não tinha tempo para pensar em trabalho.
Peguei meu celular e sai de casa. Precisava andar para colocar as ideias no lugar. Eu havia perdido a noção do tempo. Já eram quase cinco horas e eu tinha mensagens de Harry. Ele pedira para me encontrar numa lanchonete perto da faculdade. Eu tinha que ir até lá para saber o que ele queria.
Não demorei muito e já estava lá. Ele me mostrava ansioso e preocupado. Cheguei perto e me senti ao seu lado pedindo para a garçonete um suco de laranja. Harry então olhou para mim novamente e perguntou:
-          Cara, porque fez mais uma de suas brincadeiras com a Natasha?
-          Harry, eu NÃO brinquei com ela. É verdade o que eu disse.
-          Olha, eu sei sobre o diário, sei sobre o que acontece quem o tenta abrir. Não precisa me explicar.
-          E porque você não falou para ela que o que eu disse era verdade?
-          Porque é bom ela não ficar sabendo. Pode ser perigoso.
-          Perigoso? Perigoso como?
-          Luke, tem muita gente atrás desse livro, acorda. Um livro que te da o poder de realizar qualquer desejo. Imagina, você pode pedir ser milionário, ser forte, ser presidente, qualquer coisa.
-          É sério?
-          Lógico que é sério. Você tem uma arma gigantesca nas mãos e não sabe.
-          Estou vendo. Olha, vamos sair daqui. – ele então colocou o dinheiro do meu suco e de sua bebida e se levantou.
-          Ir para onde?
-          Até minha casa. Lá eu te falo o que eu sei.
-          Certo.
Entramos dentro de seu carro e fomos até a casa de Harry. No caminho ele ficou mudo, eu também não tinha o que falar. O sol estava dando lugar à lua quando chegamos em sua casa.
Parimos direto para seu quarto. Lá dentro ele havia retirado um pouco alguns papéis e começou a falar:
-          Luke, dentro deste diário tem uma das cinco pedras. Cada pedra tem uma cor e um significado. Azul: água. Verde: terra. Branco: Gelo Vermelho: Sangue e a última pedra ninguém sabe a cor ou o significado. Algumas pessoas dizem ser a pedra negra que significa noite, outras dizem que é amarela representando o sol, mas ninguém nunca provou isso.
-          E o que eu tenho que fazer?
-          Bem, primeiro abrir o diário. Diz a lenda que dentro do diário tem uma pista que leva a outra pista e assim sucessivamente.
-          Um jogo?
-          Um Jogo mortal.
-          Mais o que eu preciso saber?
-          Eu fiz uma pesquisa superficial e descobri que a primeira letra é “r”.
-          R?
-          Sim.
-          Que estranho, o que tem a ver “r” com ele?
-          Eu não sei, vou tentar descobrir. Mas olha, tente colocar ai, se fizer um soar um som, é porque está certo.
-          Ótimo, é isso mesmo.
-          Outra coisa, dizem que as cinco pedras devem ser reunidas num local que quando juntas darão o poder de escolha para quem as trouxe. Após o pedido, elas são destruídas e só voltam a reaparecer depois de 100 anos.
-          Quer dizer que só tenho uma chance?
-          Sim. Agora ouça, Luke. Tome muito cuidado com isso, é perigoso. Não envolva a Natasha nessa história.
-          Tudo bem, mas hoje eu tive um sonho estanho.
-          O que houve?
-          Bem, eu não sei te contar direito, mas eu tava na rua e vi a Natasha no chão com um corte na garganta, o corte me lembrara muito bem um símbolo. Ai, por ali perto havia um rapaz, não dava para ver sua cara porque estava tampado por um capuz. Mas na sua mão havia uma lâmina pingando sangue. O ódio subiu até minha cabeça, assim eu acordei.
-          Você se lembra como era esse símbolo?
-          Infelizmente não. Porque?
-          Porque se lembrasse do símbolo eu poderia tentar descobrir de quem era. Que pergunta.
-          Desculpa, é que...
-          Você se preocupa com a Natasha não é?
-          É...
-          Eu já sei disso, mas é o que eu te falei, enquanto você estiver com isso é melhor evita-la.
-          Vou tentar. Já está ficando tarde para eu poder voltar.
-          Não precisa, durma aqui e amanhã nós iremos para escola.
-          E meu material?
-          Algum dia você levou o material?
-          É, não muitas vezes.
-          Então não é preciso.
Eu decidi ficar, Harry era outra pessoa que eu poderia confiar. Mesmo assim eu não tinha certeza do que eu queria. Um desejo? Como assim? Eu então poderia voltar no passado e trazer meus pais de volta? Era uma coisa que eu queria bastante. Nem que para isso eu deveria arriscar, o que muitos chamam de vida...
***